segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A Outra Face da Medicina: Um Estudo das Ideologias Médicas

“Os médicos jamais enfatizam os limites de seu conhecimento. Ao contrário, revestidos de seu poder, expresso no avental branco que vestem, fazem pronunciamentos dogmáticos, aceitam sua função apostólica e se tornam coniventes com a opinião geral de sua onipotência. (...) Contudo, até hoje, esse carisma aceito e reverenciado pelo povo é utilizado pela sociedade e pelos próprios médicos, não em beneficio da população que os reverencia, mas em defesa da estrutura social em que vivemos e dos poderes econômicos que nos dominam.” (LANDMANN, 1983: 18-19)

“Fome, miséria e subnutrição não são problemas que melhorem com medidas tecnológicas médicas ou que respondam a medidas médicas de prevenção. São uma conseqüência da iníqua distribuição de renda, da neocolonização de nossos países e da estrutura social em que vivemos.” (LANDAMANN, 1983: 103)

“A crença de que a doença pode ser controlada com drogas ou procedimentos técnicos não leva em conta a complexidade dos problemas humanos. Os grandes progressos em relação à saúde foram conquistados não por drogas ou procedimentos técnicos, mas por reformas sociais e econômicas.” (LANDMMAN, 1983: 142-143)

“Como no século passado, os problemas que enfrentamos na atualidade só serão resolvidos através de novas reformas sociais; mas essas reformas não interessam à estrutura do poder dominante. Não interessam aos que obtêm lucros com procedimentos que geram câncer ou que agravam as doenças cardiovasculares ou trazem miséria ao mundo em desenvolvimento.” (LANDMANN, 1983: 143)

“O médico racionaliza sua ação acreditando agir em benefício do paciente. Na verdade, esse procedimento é mais uma repressão social do que uma forma de assistência médica.” (LANDMANN, 1983: 173)

“Os direitos do indivíduo e a proteção que a lei lhe confere são retirados por ser ele estigmatizado como doente mental. Isso não difere das discriminações que no passado retiravam os mesmos direitos na base de considerações raciais ou religiosas.” (LANDMANN, 1983: 176)

“A posição social dos médicos os leva a resistir a qualquer reforma social que ameace sua estabilidade e a lutar para preservar a posição que ocupam, mesmo cooperando com os regimes mais opressores da dignidade humana.” (LANDMANN, 1983: 215)

“As pessoas atacadas, violadas e batidas – especialmente se por longo tempo – acabam com modificações de sua personalidade, admitindo uma posição submissa em relação às que a dominam. O oprimido adota as posições ideológicas e os valores do opressor.” (LANDMANN comentando estudo the future of na ilusion de Freud, 1983: 216)

“O monopólio do exercício profissional só foi possível pelo desenvolvimento da tecnologia, que fez com que a execução dos atos médicos fosse privativa de profissionais treinados.” (LANDMANN, 1983: 223)

“Uma das grandes ambições de qualquer médico é descrever uma nova doença ou uma nova síndrome que possa imortalizá-lo. O estudo da medicina é orientado no sentido de interpretar como doenças fenômenos até então não considerados como tais.” (LANDMANN, 1983: 247)

“Os dados objetivos que caracterizam o homossexualismo não se alteraram. O que se alterou foi o julgamento do médico. Isso sugere a existência de uma norma inquietante: a definição de doença não depende somente da existência de certos fatos; ela é condicionada ao julgamento desses fatos. E são os médicos que julgam. Eles têm o poder de definir quem é doente e quem é sadio.” (LANDMANN, 1983: 248)

“O estigma da doença pode inclusive perpetuá-la. Mendel e Rapoport citam o fato de que em hospitais psiquiátricos de Los Angeles a causa mais comum de admissão é a readmissão.” (LANDMANN, 1983: 253)

“Para Cohen e Uphoff, o envolvimento comunitário em ações de saúde é fictício. A participação assume apenas o caráter de implementação de recursos para cobrir a alocação insuficiente por parte do governo. (...) Servem como mão-de-obra gratuita ou explorada. (...) A participação consiste em seguir diretrizes que vem de cima. É aquiescência, e não participação.” (LANDMANN, 1983: 323-324)

“Para Paulo Freire, a participação comunitária só se concretizará através da conscientização do povo sobre as causas das doenças devidas à persistência das desigualdades gritantes nos campos econômico e político.” (LANDMANN, 1983: 325)

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